A capela da Nossa Senhora da Guia surgiu na segunda metade do Século XIX, mais propriamente em 1884. A ideia da devoção a esta santa foi trazida pelos “Cartagenos” (nome dado aos negociantes Loriguenses de lã), numa das suas viagens ao Minho. Nessa viagem, junto à foz do Rio Ave, viram uma ermida da Nossa Senhora da Guia (padroeira dos pescadores) e desde logo pensaram em fazer uma capela evocativa da mesma Virgem em Loriga.
Como nesta época começavam a sair muitos Loriguenses para o Brasil, a evocação escolhida foi a de Nossa Senhora da Guia – Padroeira dos Emigrantes, que mais tarde se estendeu a todos os que desta vila emigraram para os vários países da Europa na década de 60.
Nos primeiros anos da década de 1880, quando se procedia às obras da reconstrução da Igreja Matriz, destruída em consequência de um abalo de terra, a ideia da construção da capela da Nossa Senhora da Guia ganhou forma na mente do povo de Loriga, que era muito devoto, de muita fé e de muita coragem. O monte “Gemuro”, situado a nordeste da povoação a pouco mais de um quilómetro do centro da Vila, foi o escolhido por ser terreno plano, soalheiro e de boas vistas. No entanto, não foi uma escolha pacífica, originando muitos conflitos e confusões, que só o tempo viria a apagar. Este monte era uma passagem dos proprietários dos pinhais e servia também de caminho de acesso à freguesia da Cabeça. Ali se juntava o povo aos domingos, nas tardes de verão, facto que desagradava os proprietários daquelas terras e pinhais. Mas o povo, cada vez mais atraído por aquele local para os seus convívios familiares, de lazer e descanso, movidos pela ideia da construção da capela, começaram a derrubar os pinheiros e a terraplenar o terreno. Nem mesmo as autoridades administrativas locais conseguiram demover o povo do fim que tinha em vista, passando desde logo esse lugar a chamar-se Senhora da Guia. Em 1884, foi concluída a construção da capela feita de pedra de xisto. A primeira festa realizou-se a 6 de Outubro e, a partir desse ano, começou a ser realizada anualmente no primeiro Domingo de Agosto.
Esta capela durou cerca de 40 anos e tinha a entrada principal virada para a povoação. Como aquele local era frequentemente assolado por ventos fortes e enxurradas de águas no inverno, o estado de degradação da capela acentuou-se. Em 1917-18, após mais de três décadas de existência e como não parecia oferecer segurança, constituiu-se uma comissão com a finalidade de dar início à construção de uma nova capela. Foi então demolida e, no seu lugar, edificou-se uma outra, que ficaria concluída por volta do ano de 1921. Esta capela, que chegou até aos nossos dias, com as medidas de 9,30 X 6,90 metros, tem, ao longo da sua existência, conhecido várias transformações, pelo que apresenta poucas semelhanças com a inicialmente edificada.
Os relatos da época dizem que a festa realizada após a construção da nova capela foi de verdadeira emoção e alegria. Era então pároco de Loriga o Monsenhor António Gouveia Cabral e no rosto de todos os presentes era bem visível esse contentamento por terem proporcionado uma digna capela à Virgem que, do seu andor, parecia dizer ao menino que olhava sua Mãe – “Vê como meus filhos me amam”.
Apesar desta euforia, ao longo dos anos têm-se presenciado alguns conflitos entre o povo loriguense e as entidades paroquianas. O primeiro conflito surgiu em 1935, quando foi constituída pela primeira vez uma Comissão para organizar a festa, que até então tinha estado a cargo do Pároco. Esta Comissão publicou uma programação onde não constava nenhuma referência ao culto religioso. A situação provocou um contencioso entre o Pároco e os membros da Comissão, resultando no envio de uma carta ao Bispo da Guarda por parte do Pároco. Em resposta a essa carta, o Bispo incumbiu-o de adiar a festa até que fosse conveniente a sua realização.
Este contencioso prolongou-se durante quatro anos e, no ano de 1939, pela única vez na história, não foi celebrada a festa em honra de Nossa Senhora da Guia. Mesmo assim, em sinal de protesto, alguns populares lançaram foguetes na noite anterior à data da festa. Esta situação levou novamente o Pároco a informar o Bispo dos acontecimentos que, em resposta, fez chegar um comunicado onde pedia os pormenores do sucedido e os autores dos mesmos, ameaçando-os mesmo com uma possível detenção. Consta no entanto que, 15 dias volvidos, foi realizada uma celebração na capela em substituição da festa.
Já num passado bem recente, outra polémica foi levantada em torno da festa de Nossa Senhora da Guia, por causa de uma tradição de longos anos, o lançamento de fogo-de-artifício no Sábado da festa aquando da chegada da procissão à ponte. O padre queria proibir a paragem da procissão e o respectivo lançamento de fogo-de-artifício. Tal só não aconteceu porque a população se uniu e parou mesmo a procissão. No final do lançamento do fogo, todas a gente bateu palmas em sinal de satisfação e, de seguida, prosseguiram com a procissão.
Mais uma vez, esteve aqui presente a união da população para que uma tradição centenária e de grande importância nesta terra se mantenha e que continue a trazer à vila a massa humana a que, desde sempre, nos habituou.
O recinto de N. S. da Guia é, hoje em dia, a “coroa” da Vila de Loriga, verdadeiramente digna de visita. Esta festa é a mais importante que se realiza em Loriga e a que mais visitantes atrai, nomeadamente os emigrantes loriguenses espalhados pelo país e pelo mundo. As mordomias nomeadas ao longo dos anos levam a efeito vários eventos com o intuito de angariar receitas, não só para a realização da festa anual, mas também para terem fundos para despesas pontuais, como obras e restauro da Capela, Coreto, Casa do Fogueteiro e ainda a conservação de toda a área envolvente do recinto e rampa de acesso.